A revolução dos professores: sob a perspectiva da união da classe
Desde os tempos da Colônia, o Brasil é comandado por uma elite que impede, via governo, de a maioria do povo brasileiro – composto pela classe pobre e por parte da classe média – de ter uma Educação de qualidade e acesso ao ensino Superior. Os motivos são óbvios: a minoria dominante detém um excelente poder aquisitivo, financia partidos políticos e, em contrapartida, é mais fácil para os políticos governarem, se elegerem e reelegerem, pois em troca de pouca coisa, até mesmo promessas, a maioria dominada vota satisfeita e esperançosa. A coisa mais fácil é enganar eleitores com baixa escolarização.
Um país somente pode ser bem sucedido econômica e financeiramente se tiver como base um bom sistema educacional, com conteúdos contextualizados e com a participação da sociedade. Entretanto, o Brasil conta com uma sociedade passiva em relação a resultados do Pisa, do Enem e do Saeb, e com professores desiludidos, descrentes, desmotivados e revoltados. Com tais atitudes jamais poderão mudar algo tão essencial ao crescimento de uma nação.
A nossa Educação Básica conta com cerca de 2.647.414 funções docentes exercendo atividades em sala de aula (1). Temos, portanto, levando em consideração que o mesmo docente pode atuar em mais de um estabelecimento, em torno de dois milhões e meio de professores em atividade. Esse número engloba as quatro dependências administrativas: federal, estadual, municipal e privada.
Na Região norte são 205.045 funções docentes, assim distribuídas: Rondônia, 19.720; Acre, 11.375; Amazonas, 44.801; Pará, 90.114; Amapá, 11.328; Tocantins, 19.850.
Na Região Nordeste são 768.111 funções docentes, assim distribuídas: Maranhão, 111.784; Piauí, 61.889; Ceará, 115.603; Rio Grande do Norte, 45.649; Paraíba, 61.056; Pernambuco, 110.954; Alagoas, 40.110; Sergipe, 29.311; Bahia, 191.755.
Na Região Sudeste são 1.104.534 funções docentes, assim distribuídas: Minas Gerais, 284.972; Espírito Santo, 48.107; Rio de Janeiro, 238.415; São Paulo, 533.040.
Na Região Sul são 391.067 funções docentes, assim distribuídas: Paraná, 148.325; Santa Catarina, 87.488; Rio Grande do Sul, 155.254.
Na Região Centro-Oeste são 178.657 funções docentes, assim distribuídas: Mato Grosso do Sul, 35.851; Mato Grosso, 40.481; Goiás, 70.863; Distrito Federal, 31.462.
Apesar de ser em grande número, no entender da classe - que é “a mais sofrida, a mais abandonada, e o pior, a mais desunida” (2) - a sua única força são as greves. Mas greves em função de salário. Greves que comprovam a sua desunião, enfraquecendo-a, desvalorizando-a e deixando-a ainda mais desacreditada perante a sociedade. Os estabelecimentos de ensino da Educação Básica somam 203.973, os quais são freqüentados por 55.942.047 de alunos, sendo 8.906.820 do Ensino Médio, 33.282.663 do Ensino Fundamental, 7.016.095 da Educação Infantil, 744.690 da Educação Profissional, 5.616.291 da Educação de Jovens e Adultos e 375.488 da Educação Especial. Desses, 177.121 são de escolas federais, 23.175.567 de escolas estaduais, 25.243.156 de escolas municipais e 7.346.203 de escolas privadas (3).
Mas como fazer uma revolução de educadores neste país, se quando os professores lêem algum livro novo de pedagogia que aparece no mercado ou ouvem palestras durante os encontros pedagógicos ou no decorrer do ano, dizem que já ouviram tudo aquilo, que o problema é o ‘processo’; se tão-somente reclamam dos alunos, da direção, do Secretário e do Ministro da Educação; se cada um vai para sua casa revoltado, desiludido e com vontade de abandonar tudo; se boa parte dos professores encontra-se na sala de aula por falta de opção, por não ter conseguido fazer outro curso de graduação ou conseguido um outro tipo de emprego?
Mas como fazer uma revolução se muitos professores aposentados e ex-professores com mais de cinqüenta anos somente sabem escrever artigos criticando a Educação atual, elogiando o ensino do passado, o qual a História mostra que era cheio de vícios e seletivo?
Mas como fazer uma revolução se a sociedade, principalmente a classe média e a classe média alta, não age diante dos resultados que a escola pública tem apresentado, buscando sempre manter seus filhos na rede particular de ensino, fomentando uma cultura mercadológica da Educação e propiciando a seus donos um ganho maior a cada ano, muitos dos quais integram a bancada da Educação no Congresso ou a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados?
A revolução somente poderá ser feita se for levando em consideração o número de professores na ativa, o fato de serem formadores de opinião, que quase sessenta mil estudantes passam a maior parte do tempo em sua presença, e que esses mesmos alunos têm, cada um, pelos menos duas pessoas no convívio familiar. A revolução somente poderá ser feita se os professores tomarem uma posição apartidária, tanto como educadores quanto como eleitores, e forem à luta pelo poder da palavra. A revolução somente poderá ser feita se a classe se unir, trabalhar coesa e agir com coerência e bom senso.
O mais difícil de tudo isso é mudar a cultura dos professores. Sem mudar essa cultura que os acompanha há centenas de anos para que a cultura que acomete a Educação brasileira desde o Brasil colônia também mude, a revolução jamais se concretizará. E no mais, que cada um dê suas aulinhas no dia a dia calado, sem reclamações e lamentos, volte para casa no fim do dia ou à noite cansado, mas conformado, sente-se na poltrona com os pés para cima e assista à maravilhosa e educativa programação da Globo “com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar” (4).
Referências:
(1) Inep/MEC, Senso 2006.
(2) LIMA, Geraldo França de. “A herança de Adão”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
(3) Inep/MEC, Senso 2006.
(4) Trecho da música “Ouro de tolo”, de Raul Seixas.
* Prof. Maurício Apolinário
é autor do livro “A arte da guerra para professores”
http://mauricioapolinario.sites.uol.com.br/educacao
Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 16/08/2007
Alterado em 05/10/2007