(In)Disciplina na Sala de Aula: Ameaças e Oportunidades
“... lutar e vencer em todas as batalhas não é a virtude
suprema; esta consiste em quebrar a resistência do inimigo
sem combate.”
Sun Tzu, A Arte da Guerra
“A realidade é constituída de círculos, mas nós vemos linhas
retas. Aí estão nossas primeiras limitações...”
Peter Senge, A Quinta Disciplina
Maximiano (2004: 132) define objetivos como os fins, propósitos, intenções e resultados futuros que as pessoas e as organizações pretendem alcançar, por meio da aplicação de esforços e recursos. Em primeiro lugar, se a priori o objetivo do professor for conseguir dar uma aula sem a perturbação dos alunos, e então cumprir seu compromisso com a escola, ele já perdeu a batalha. Aplica esforços e recursos em vão. Não é esse o objetivo de um professor na sala de aula. Ele precisa entender qual é a sua missão. No cumprimento da missão, o professor enfrenta ameaças, mas também encontra oportunidades.
Entre as ameaças estão a indisciplina, os conflitos, o desinteresse, a falta de motivação. As oportunidades, o professor as buscará no seu dia-a-dia.
Segundo pesquisas, cerca de 1/3 dos alunos são indisciplinados (Abramovay e Rua, 2003). Um dos grandes geradores de indisciplina, de acordo com Tiba (2006: 30 e 138), está em um professor impor seu poder sobre os alunos, e estes não lhe reconhecerem a autoridade. Já nos referimos à autoridade no capítulo anterior. Como muitos pais estão terceirizando a educação, passando a responsabilidade para a escola, a falta de limites de crianças e adolescentes é um calo na vida dos professores. Perderam-se os valores familiares, perdeu-se o respeito. O autor afirma ainda que a educação pode não vir de casa, mas a escola não pode ser conivente com a falta dela. O problema é que muitos pais dão o mau exemplo. É fato que a família não tem cumprido objetivamente sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória, estabelecendo limites, desenvolvendo hábitos básicos. Mas por que a família está do jeito que está? Foi a partir de uma decisão de “livre e espontânea vontade”? Os professores precisam refletir também um pouco sobre esta questão, pois, acaso estão dando aula do jeito que estão – sem preparar muito, sem aprofundamento, sem clareza dos objetivos, sem renovação metodológica, sem articulação interdisciplinar, sem relacionar os conteúdos com as necessidades dos educandos, etc. – porque decidiram “livremente”? (Vasconcelos, 2006: 26).
E por falar nisso, como podemos cobrar disciplina dos alunos e lutar contra a violência nas escolas, se o Presidente da República aconselha seus correligionários, em alto e bom tom diante das câmeras de televisão, para crianças, adolescentes e jovens de todo o país assistirem, a não levarem desaforo para casa?
Os conflitos entre crianças e adolescentes são inevitáveis. Cabe ao professor identificá-los e administrá-los. Entre os vários tipos de conflitos (violência) que ocorrem nas salas de aula, podemos destacar as ameaças, que podem ocorrer tanto entre alunos quanto entre alunos e professores, e as brigas, bastante freqüentes entre alunos nas escolas. Há também os bate-bocas, as discussões e as agressões verbais. Esses conflitos, apesar de fazerem com que o professor perca o estímulo para o trabalho, são melhor administráveis pelos mesmos. Mais difícil é quando a violência atinge patamares piores, assunto que não será tratado no presente estudo.
O desinteresse e a falta de motivação dos alunos pelo aprendizado têm marcado bastante o fracasso das aulas de nossos professores. Mas como ter interesse se pessoas com diplomas estão desempregadas, e como incentivá-los se eles vêem na Presidência da República do seu país um cidadão sem estudos e que se vangloria de haver tido uma mãe analfabeta? se qualquer cidadão, mal sabendo rabiscar o nome, pode se candidatar a vereador, prefeito ou deputado?
Vamos aprender um pouco com Sun Tzu. Ele diz: Na arte prática da guerra, a melhor de todas as coisas é conquistar intacto todo o país inimigo; fragmentar e destruir não é tão proveitoso. Vejamos o que podemos extrair de seus ensinamentos:
1º) Conquistar intacto todo o país: Se o professor, na primeira aula, já entra “de sola”, criou atrito com os alunos e perdeu o controle sobre a turma. Está mais que provado que esse tipo de estratégia não funciona. O professor precisa conquistar seus alunos.
Aconteceu comigo na década de 1980, primeiro dia de aula em um 3º ano, Curso Técnico em Contabilidade noturno, alunos geralmente além da idade normal para a série, cansados de um longo dia de trabalho. Eu havia entrado como substituto de uma professora. Ao me referir a alguma coisa sobre perder pontos por indisciplina, fui retrucado por um aluno. Bati de frente com ele. Era o líder da turma e um líder no colégio. Tipo do aluno que não abaixa para um professor. Tive que mudar a tática. Ele tornou-se um amigo fora da escola. E foi um bom aluno.
2º) Fragmentar e destruir não é tão proveitoso: Nada pior que uma turma dividida, sendo uns a favor e outros contra o professor. Isso deve ser evitado a todo custo. Nem tampouco arrasar a turma, lendo sermões, aplicando punições e, o que é ainda pior, aplicando provas que muitas vezes nem o próprio professor conseguiria fazer. Nenhum proveito tira o professor dessa atitude.
Vou fazer aqui uma adaptação ao texto de Maximiano (2004: 138), sob o enfoque do professor, no que tange à análise de pontos fortes e fracos:
Paralelamente ao estudo do ambiente (a sala de aula), a busca de pontos fortes e pontos fracos dos sistemas internos (alunos) é uma das bases do planejamento estratégico (domínio de classe). Os seguintes itens podem ser examinados em uma análise dos pontos fortes e fracos:
- Competências (metodologias) que destacam (enriquecem) a organização (a aula) e a fazem ser melhor.
- Focos de problemas (indisciplina, conflitos, desinteresse, etc) da organização (sala de aula).
- Comparação com outras empresas (aulas de colegas) e com as “melhores práticas” (metodologias e recursos didáticos).
Esta é a arte da guerra na sala de aula: mas o inimigo não é o aluno.
Bibliografia:
ABRAMOVAY, Miriam. Ensino Médio: múltiplas vozes / Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro. Brasília: UNESCO, MEC, 2003.
MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Fundamentos de Administração. São Paulo: Editora Atlas, 2004.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. (In)Disciplina – Construção da Disciplina. São Paulo: Libertad Editora, 2006.
Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 19/06/2007