Educação inclusiva e valorização dos professores
Palestrante
Desmistificando a educação: falando sobre inclusão e transtornos mentais de forma casual e realista.
Textos
Comunicação: Um problema na Escola Pública
          O sistema educacional brasileiro vive, atualmente, uma de suas piores crises, e isso se deve, em grande parte, a falhas na comunicação entre as partes envolvidas, a distorções das teorias, métodos e técnicas implantados durante as inúmeras mudanças empreendidas nas últimas décadas. E um triste fato que comprova isso é que, conforme informa Zagury (2006), ao final da 4ª série do Ensino Fundamental, com quatro anos de escolarização, mais da metade dos alunos continua mal sabendo ler e fazer cálculos matemáticos básicos, e cerca de 40% dos alunos concluem a 8ª série praticamente analfabetos e sem o domínio dos instrumentos mínimos necessários para conseguir um emprego de contínuo.
          Um grande exemplo de que a boa comunicação é uma base sólida para o sucesso de um empreendimento é a construção de uma cidade e da Torre de Babel. “Em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar” (Gênesis 11:1). Todos se entendiam e buscavam um único objetivo. Mas, por outro lado, o mesmo exemplo serve para mostrar o oposto disso, ou seja, quando se “confundiu” a linguagem desse povo, quando barreiras de comunicação predominaram e todos falavam, mas ninguém entendia ninguém, eles se dispersaram, e o projeto ficou abandonado.
          Temos vivido muito isso em nossa educação. A “linguagem” falada nas escolas nem sempre é a mesma. As barreiras de comunicação estão interferindo bastante no que se refere ao bom desempenho do projeto político-pedagógico, tanto nas atividades-meio quanto nas atividades-fim.
          Tudo começa com as inovações apresentadas, a cada governo, como as melhores e as mais eficazes, mas muitas vezes distorcidas e mal aplicadas nas escolas devido à escassez ou inexistência de treinamento docente adequado, antes da implantação. Visto que a comunicação de como aplicar as novas mudanças e as novas linhas teórico-pedagógicas é falha ou nula, cada profissional as executa da maneira que interpretou ou consegue executar. Segundo Zagury (2006), muitos erros ocorreram e continuam a ocorrer devido à compreensão equivocada e à informação superficial das novas metodologias, bem como das novas técnicas, que rapidamente se distanciam dos propósitos dos autores.
          Esse é um dos grandes motivos de a educação no Brasil estar em declínio a cada governo que passa.
          Outro fator é a falha na comunicação entre a direção e as coordenações, de ambos para com os professores, e também entre estes. Alguns não conseguem se fazer entender; uns interpretam de modo distorcido o que lhes foi dito; outros permeiam o entendimento com as próprias emoções, distorcendo as informações ou ouvindo somente o que lhes interessa. Há também o filtro da cultura, do meio social e familiar, das crenças. Infelizmente, temos que citar aqui também o descrédito em relação á eficiência do outro, seja colega ou superior.
          Como uma organização, a escola é um aglomerado de grupos. Cada pessoa que nela trabalha ou estuda faz parte de um grupo. Vimos que, se não houver clareza de objetivos e coesão, a eficácia do grupo estará comprometida, uma vez que a comunicação é de fundamental importância para seu desempenho. O mesmo ocorre entre os vários grupos que a compõem. Se houver falha na comunicação entre coordenadores e professores, tendo uns dificuldades de expressão e outros dificuldades de interpretação, conseqüentemente boa parte do trabalho estará comprometida. A coesão de uma equipe técnico-pedagógica, segundo Zagury (2006), é requisito importante para a obtenção de resultados efetivos em Educação. E essa coesão se consegue quando as decisões pedagógicas finais são fruto de reflexão, análise crítica e decisões conjuntas, nas quais o professor é parte ativa.
          Mas como ser coerente e coeso tendo cada um seu ponto de vista? Como refletir e tomar decisões conjuntas se esses mesmos pontos de vista forem impostos, muitas vezes, tidos como os únicos corretos, e não se compreende ou não se faz nenhuma questão de compreender o pensamento do outro? Infelizmente, isso tem ocorrido freqüentemente na maioria de nossas escolas públicas.
          Em seu livro A segunda criação, Ian Wilmut (Editora Objetiva), geneticista britânico e um dos criadores da ovelha clonada Dolly, afirma que os genes mantêm um diálogo ininterrupto com o resto da célula, a qual se comunica com outras células do corpo; estas, por sua vez, mantêm contato com o ambiente externo. Esse diálogo, que controla o desenvolvimento do organismo, ocorre desde sua geração e prossegue posteriormente ao nascimento. Se houver falha nessa comunicação, ocorrerá um descontrole nos genes e um crescimento desordenado das células. O resultado, segundo ele, é o câncer.
          Se uma escola é um organismo vivo, o seu sucesso dependerá do diálogo estabelecido entre os vários grupos e pessoas que a compõem. Se essa comunicação não se processar corretamente, o resultado será a má qualidade do ensino-aprendizagem, o câncer da educação.
          Um terceiro fator é o que envolve o corpo docente, afetando de modo direto o ensino aprendizagem. Tiba (2006) afirma que um dos grandes motivos de o aluno ser reprovado nas provas é não conseguir entender a matéria que um professor apenas expressou. Expressar, segundo ele, é simplesmente exteriorizar o conteúdo de quem fala, enquanto que transmitir significa conseguir comunicar para fazer-se entender pelo outro.
          Muitos professores que estão na sala de aula das escolas públicas hoje não sabem se expressar bem e muito menos se comunicar e transmitir informações. A má qualidade de comunicação tornou-se um dos principais problemas que atingem as salas de aula.
           Na maior parte do tempo, o professor faz uso da retórica, passando uma grande quantidade de conteúdo em curto espaço de tempo, em detrimento da dialética, que pressupõe a existência do diálogo, do debate, uma vez que, conforme atesta Zagury (2006), a responsabilidade da aprendizagem também é uma função do aluno.
          Não poucos professores, além de não dominarem o conteúdo de sua disciplina (já fruto da defasagem educacional ao longo dos anos, incluindo os cursos de graduação), não conseguem transmiti-lo, fazendo-se entender pelos alunos, e, às vezes, nem mesmo conseguem se expressar muito bem. Outros, abusando da retórica, esbanjam o seu saber, falando e falando, mas nem sempre com simplicidade de palavras e clareza. A informação não se torna conhecimento e muito menos experiência para o aluno. O professor, ao invés de perguntar aos alunos “Vocês entenderam?”, deveria perguntar “Eu me fiz entender?”.
          Segundo Maximiano (2004), existe um princípio de comunicação retratado na idéia de que “para ensinar matemática a alguém, é preciso conhecer muito bem tanto a matemática quanto esse alguém”. O professor, portanto, não somente deve ter domínio da disciplina e transmitir bem o seu conteúdo, mas também, no ponto de vista de Tiba (2006), ter a capacidade de se adaptar às características do aluno, visando, como único objetivo, o aprendizado. Mas como conhecer bem o aluno com salas de aula tão cheias e com uma carga horária estressante?
          O quarto e último fator refere-se aos alunos. Tiba (2006) afirma que qualquer aluno que deseja aprender de verdade aprende com professores, sem professores ou apesar dos professores. Concordo em parte, pois nem todos os indivíduos são autodidatas. O aprender depende muito da vontade do aluno.
          Nesse caso, além das várias barreiras de comunicação, destacam-se duas. A primeira é a desatenção por parte do receptor, ou seja, do aluno. Trata-se daquele aluno ausente de corpo presente. Ouve o que o professor explica, mas sua atenção está voltada para outras coisas, inclusive tarefas de outras disciplinas. A segunda é o excesso de mensagens que disputam a atenção do aluno. Mais para o adolescente do que para a criança, mas não isentando esta, a gama de informações que o mundo hoje oferece é intensa, e, geralmente, mais interessantes para o aluno do que a matéria ministrada pelo professor na sala de aula. Assim, surgem conversas paralelas, manuseio de revistas, utilização dos vários recursos oferecidos pelo celular, etc.
          O resultado dos quatro fatores expostos é único: não efetivada a comunicação devido ás interferências, a aprendizagem está comprometida.  
  
Bibliografia:
MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Fundamentos de Administração. São Paulo: Editora Atlas, 2004.
TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: novos paradigmas na educação. São Paulo: Integrare Editora,  2006.
ZAGURY, Tânia. O professor refém: para pais e professores entenderem por que fracassa a educação no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2006.  

* Prof. Maurício Apolinário
   é autor do livro "A arte da guerra para professores"
Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 31/05/2007
Alterado em 11/11/2008
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"Não existe quem seja incapaz de frequentar a escola. Existe escola que não se capacita para incluir." Carol Souza (@carolsouza_autistando)
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